quarta-feira, 11 de julho de 2007

Quanto tempo você tem?

Quanto tempo você tem?
Quem nunca se deparou dizendo “Se eu tivesse tempo...”? Nos dias de hoje, o homem busca rapidez e praticidade, assim, procuramos eliminar tudo o que nos é obsoleto e dispendioso para atingirmos a máxima produtividade. Reflexo ou não das exigências do mercado de trabalho, o fato é que este padrão atingiu nossas vidas em cheio, e lidar com os perigos desta agilidade nem sempre é algo tão fácil.

Por conta de “corrermos contra o tempo” quase sempre deixamos de fazer aquilo que é realmente essencial em nossas vidas, as tarefas diárias nos consomem e não damos espaço para fazer o que exige calma e paciência. Exemplo disso é a nossa dificuldade em sentarmos para conversar com Deus, a oração tem se tornado cada vez mais, ato difícil para aqueles que não fazem disso um hábito comum. Esquecemos que nossas conversas com Deus não podem ser como os bate-papos de internet, onde conversamos com quatro ou cinco amigos ao mesmo tempo enquanto lemos as notícias ou passamos algumas mensagens, tudo de forma muito instantânea e ágil, não enxergamos que para estarmos conectados com Deus é preciso mais que um “click”, se fazem necessários os artifícios da espera e escuta.

A verdade é que quando paramos para rezar, na maioria das vezes estamos mais preocupados com o tempo do que com a própria oração, frequentemente olhamos para o relógio e estipulamos alguns minutos para finalizarmos. Fazemos isso porque estamos acostumados a viver assim, esperamos que as respostas de Deus venham rápidas como um e-mail, objetivas e disponíveis como as tecnologias de que dispomos hoje.

Seguindo esta lógica, poderíamos até dizer que Deus e a Internet funcionam de forma bem diferentes, se não, opostas. Deus quer de nós paciência para esperar o momento certo de cada coisa, quer o silêncio para que possamos ouvir bem suas palavras, a calma para que não nos inquietemos com as dificuldades da caminhada. Nossa falta de tempo nos faz parecidos com Marta, que se preocupa em realizar suas tarefas quando seu Senhor vem visitar sua casa: “Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto uma só coisa é necessária” (Lc 10, 41-42). Deus não quer todo o nosso tempo, “Existe um tempo para cada coisa” (Ecl, 3) Ele quer que trabalhemos “Comerás o pão do suor do teu rosto” (Gn 3,19) e demos o verdadeiro valor a cada coisa.

Acreditemos também que Deus não nos quer somente aos pés da cruz, Ele quer que saiamos à missão incumbida a cada um de nós. Como dizem os mais antigos, “quem olha demais para o céu tropeça”, e talvez isso seja mesmo verdade. Naquela época Jesus poderia ter dito a seus discípulos para se recolherem e passarem o resto de suas vidas em oração, mas Ele quis que saíssem para anunciar a Palavra de Deus, por certo eles sabiam que não tinham tempo de sobra, havia muitas pessoas precisando de cura e conversão. Mesmo com toda sua missão por cumprir, Jesus sabia bem os momentos de parar, recolher-se e pedir forças ao Pai para continuar. Inspirados Nele podemos aprender a administrar o nosso tempo, a dividir nossas tarefas, a viver em família, a sermos jovens em toda a essência, sem deixarmos de lado o plano de Deus em nossas vidas.

A geração dos anos 80 e 90 cantaram a simpática música que diz “temos todo o tempo do mundo... somos tão jovens...” de fato, é melhor tentarmos esquecer esta velha canção ou deixá-la apenas como lembrança, esta é a mentalidade de quem não dá o devido valor ao seu tempo, é preciso entender que não dispomos de todo o tempo porque ele não nos é palpável ou previsível, “Quem dentre vós, por mais que se esforce, pode acrescentar uma só medida à duração de sua vida?” (Mt 6, 27) ninguém sabe o dia ou a hora, pode ser amanhã ou no próximo suspiro. Cabe a nós disponibilizarmos esses ricos momentos para fazer o bem, fazer a caridade, ajudar o irmão e anunciar o Senhor a todos, enquanto há tempo.

"“Segue-me”. E Levi, levantando-se, o seguiu." (Mc 2, 14) Deus nos chama no tempo presente, quer que nos levantemos e o sigamos agora, não amanhã, ou quando sobrarmos tempo. Frequentemente, ao fim do dia, caímos na tolice de deitarmos a cabeça sobre o travesseiro e nos auto-programarmos: “A partir de amanhã vou ser diferente, vou fazer isso e aquilo...” e passam os dias, nada muda, continuamos as mesmas criaturas de ontem, o tempo passa, voltamos a reclamar da falta de tempo, permanecemos neste ciclo irredutível e nada acontece. Se pensarmos bem, o provável erro esteja em nos concentrarmos demais na posteridade, quase nunca fazemos o possível para o agora, viver o presente virou algo tão difícil que é melhor colocarmos em nossa agenda como prioridade para o dia de hoje, afinal se deixarmos para amanhã poderemos esquecer novamente deste importante compromisso.
(baseado na música “Quanto tempo você tem?” - Banda DOM)

“Ter tempo é estar fora do tempo, e não ser escravo dele.
Ter tempo é ter espaço em si, para acolher.
Ter tempo é ser silêncio, para ser capaz de ouvir o irmão.
Ter tempo é ser templo no tempo e parar para ter tempo de estar no templo.
Ter tempo é viver um momento de eternidade num simples silêncio, porque Deus é o silêncio eterno, presente no tempo do templo de nossa vida.”
(Frei Urbano Plentz, ofm. Cadernos Franciscanos, 1977)

Matheus Jardelino Dias