domingo, 20 de fevereiro de 2011

Não sou metade, nem laranja.


Há algum tempo atrás eu pensava que precisava de muitas coisas para viver. Para mim era essencial ter um carro do ano, uma deslumbrante casa e uma televisão maior que eu mesmo.
Parecia que todos os meus esforços se concentravam neste propósito consumista inesgotável que só o dinheiro oferece. Esta lapeja exagerada por posses, certamente acabaria culminando em anos de buscas por consumos que não me preencheriam e por fim acabariam consumindo a mim mesmo. Hoje, ainda em luta, e mais desprendido do materialismo, continuo a evitar que tais enganos sobressaiam ao que é realmente essencial em minha vida.
Estou relatando um pouco de minha história para mostrar que dificilmente conseguimos a todo tempo colocar Deus à frente de nossas vidas. Sem mesmo que percebamos, os altares trocam de lugar em nosso ser, acabamos substituindo o lugar de Deus por coisas materiais ou, outras tantas vezes O substituímos por pessoas que julgamos ser essenciais para nós.Nos relacionamentos parece que as coisas andam ainda mais confusas.
Tenho percebido ultimamente em muitos jovens cristãos o anseio incessante por encontrar alguém que os “completem”, relatam que são infelizes e se sentem cada vez mais vazias por estarem “sozinhas”. Percebe-se claramente que essa dependência inadiável em se encontrar alguém atropela princípios básicos, como o sentimento puro e verdadeiro. Tais tentativas mal-sucedidas têm quase sempre como resultado uma sensação de quem, por muito tempo, usou e foi usado, deixam cicatrizes que perduram e acabam fazendo desacreditar no amor real.Já durante os namoros, a troca de altares se concretiza de fato. Frases como “você é minha vida”, “eu não sou nada sem você”, “ele/ela é minha razão de viver”, me perdoem, mas ultrapassam os limites das juras de amor.
É preciso tomarmos consciência de que nosso centro é Cristo, Ele é nossa razão de viver e nada nem ninguém pode tomar o Seu lugar. Quando isso acontece não nos damos conta que tais sentimentos resultam em nosso afastamento das coisas de Deus, e por isso, muitos se sentem incompletos, achando que precisam encontrar no outro a sua cara-metade. “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5)”. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18)” (Mt 22, 36-39).O amor é essencial, isso é indiscutível.
Casais bem-sucedidos mantêm uniões recheadas de muito amor, e a medida certa deste sentimento está na equação do amar na mesma proporção do nosso amor próprio. Os bons relacionamentos mantêm as rédeas do equilíbrio, geralmente, faltas ou excessos resultam num desequilíbrio mútuo e suas conseqüências se refletem no estado de vida do casal, onde sempre alguém dá mais do que recebe e a infelicidade aí começa a germinar.Deus nos fez completos, inteiros e não “metades” esperando outras “metades” na busca do encaixe perfeito. Fomos feitos à Sua imagem e semelhança e por isso plenos em Sua graça, e nem por isso o casamento perde o brilho que Deus deu. “O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada... Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais um, senão uma só carne”” (Gen 2, 18-24). É no ser amado que devemos ver o reflexo de Cristo, alguém que Deus escolheu para caminharmos juntos, levantando nas quedas e aprendendo nas imperfeições, uma só carne, mas almas distintas que almejam o céu.
Com a licença dos poetas, mas existe certo equívoco em muitas poesias e letras de canções. Se pensarmos bem, por mais que sejam belíssimas canções, chega a soar engraçado certas colocações como músicas românticas que dizem: “É o amor... que faz eu pensar em você e esquecer de mim... a paz que eu preciso pra sobreviver”. Certamente que os casais devem fazer suas juras de amor e isso é algo abençoado por Deus, mas buscar a paz em pessoas e dizer que somos “...alma gêmea, bate coração, as metades da laranja” aí já é demais. Se Ele tivesse me feito apenas “A metade da laranja” e não uma laranja inteira, então eu seria eternamente uma insatisfeita laranja incompleta, procurando a outra banda que sabe-se lá onde se perdeu.

Matheus Jardelino Dias

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Transformando a liberdade nos sonhos de Deus



Talvez você tenha deixado Deus entrar na sua vida há pouco tempo, ou talvez já faça muito tempo que você luta para trilhar o estreito caminho de ser cristão. Seja qual for a sua condição, é preciso entender que não importa se você teve seu encontro pessoal ontem ou há anos atrás, o que vale de verdade é a sua permissão hoje, para Deus realizar os sonhos que Ele tem para sua vida.

Todos nós trazemos na bagagem de nossa história, feridas, lágrimas, sorrisos, verdadeiras e também falsas alegrias. Neste pacote de acontecimentos, Deus sempre esteve contigo, por mais difícil que seja enxergar isso nos difíceis momentos. Sim, Ele esteve ali quando a situação pedia a presença divina, e também quando você fez quis se lembrar d’Ele nos momentos de suas infidelidades. Apesar de suas incoerências, Deus é fidelidade sem distinções, aos que se esforçam a merecê-la e aos mais desmerecedores, aos mais pecadores e aos mais santos, Ele não escolhe estar presente em razão dos méritos de cada um, mas está sempre “à porta pedindo entrada em sua casa.” (Ap 3,20).

Até que cômodo de sua casa você deixou Deus entrar? Talvez você tenha deixado entrar na sua vida, mas tenha limitado Sua presença à sala de estar, ou no máximo a alguns outros cômodos mais comuns de sua casa. Porém, enquanto você não convidá-Lo aos cômodos mais interiores, aos quartos mais escuros de sua vida, Ele não poderá entrar ali. Afinal de que adiantaria a você, servi-Lo fora de casa, na igreja e na vida dos outros, se você não pode servi-lo primeiro dentro de si mesmo?

Deus te deu as chaves de sua vida e só você pode abri-la completamente. Essas chaves estão em suas mãos, estão em sua liberdade, dom mais precioso que Deus pôde te dar. Todo dom é um presente do alto, mas só é possível desfrutar bem deste presente, se você se lançar na coragem de quem confia que os sonhos dEle vão muito além dos seus. É preciso deixar Deus entrar nos seus quartos mais escuros, para que tudo se torne mais claro em sua vida, para que a dúvida deixe de te assolar e comece a brotar em você uma nova certeza, a certeza de que o céu começa dentro de nós quando nos decidimos a sonhar os sonhos de Deus.

Nesta decisão de transformação é preciso estar ciente de duas coisas. A primeira é que nesta rica viagem rumo aos sonhos de Deus, as bagagens nos pesam, muitas atitudes em nós precisam ser abandonadas, deixadas para trás e perceber que Ele providenciará o necessário durante o caminho. A segunda é que a vontade de Deus nem sempre nós agradará ao primeiro instante, e por isso é preciso ser dócil, deixando que Ele nos convença dos rumos a que Ele quer nos levar. Sabendo dessas verdades, o caminho continuará duro e difícil, mas as perdas se tornarão mínimas quando comparadas à recompensa que Ele mesmo nos prepara.

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1 Cor 2,9). Mesmo que não consigamos entender os caminhos de Deus, mesmo que não seja possível enxergar o horizonte desta estrada, é preciso confiar que algo muito bom Deus sempre tem para nós. Abra mão dos seus excessos de bagagem, deixe para trás seus pesos, siga firme este caminho de pedras e você não se arrependerá. Tenha a coragem do cristão que ganha nas perdas, tenha a decisão dos que retiram os seus excessos, assuma a postura de alguém que se lançou no desafio de dar frutos aos dons que recebeu, dizendo: “Hoje transformo a minha liberdade nos sonhos de Deus para mim”.

Matheus Jardelino Dias

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Nasce a Esperança



Quantas vezes em nossas vidas já passamos por momentos de espera? Quantas vezes tivemos vontade de apressar as horas para recebermos a resposta que tanto esperávamos? E para fazer aquela tão sonhada viagem? Ou para cantar a vitória de ter conseguido aquilo que por tanto tempo desejamos? Você deve lembrar também da sensação que teve ao chegar o momento tão aguardado, do sabor da vitória por ter conseguido chegado enfim a hora de tudo acontecer. Hoje você sabe o quanto valeu a pena ter sofrido essas demoras, caso contrário você não continuaria esperando outros sonhos em sua vida que ainda precisam ser realizados.

Assim como você, durante muito tempo o povo judeu também sofreu as demoras do tempo. Por séculos aguardaram ansiosamente a chegada do seu salvador, aquele que os profetas previram ser um grandioso rei e que viria trazer a libertação de Israel. Havia um clima de expectativa por surgir um grande homem, coroado de majestade e repleto de riquezas. Para muitos, o Messias apareceria com todas as indumentárias próprias de quem deve mostrar todo o seu poder, porém naquela época, foram poucos os que perceberam a dinâmica com que Deus faz os milagres surgirem entre nós, o milagre surgido na simplicidade dos meios.

Faz parte da dinâmica de Deus que suas promessas comecem a se concretizar através de vias pequenas e simples. O próprio Jesus nasceu numa singela estrebaria da pequena cidade de Belém, foi através de um simples local em meio aos animais, por meio da humildade e pequenez daquela pobre serva e na obediência de seu esposo, que nasceu aquele que veio para reinar sobre todos os homens. Esta simplicidade e pobreza em nada contradisseram as profecias, mas revelava a maneira como Deus permite brotar a verdadeira esperança entre os homens, esperança que surge no meio da escassez e aridez dos desertos, na necessidade de uma gente que precisava ver como Deus se manifesta entre os pequenos.

Nós não somos muito diferentes dos judeus daquele tempo. Há no íntimo do coração humano o desejo de ver os nossos sonhos serem realizados, mesmo com tão pouco a oferecer a Deus para que os milagres aconteçam em nós. Nosso Jesus era especialista em usar das pequenas coisas para realizar seus milagres, usou de cinco pães e dois peixes, de seis talhas de água, usou a terra e a saliva, usou de homens rudes, medrosos, de pouco estudo e ainda assim os escolheu para darem continuidade à obra de salvação da humanidade. Mesmo diante de tamanha escassez, a esperança tomou o lugar de nossa pobreza, reaviva todas as expectativas que aos olhos humanos parecem inexistirem, e é neste convívio com a misericórdia de Deus, que nos reconhecemos verdadeiramente filhos daquele que é a esperança encarnada no homem.

“Doce é a luz e é um deleite para os olhos ver o sol.” (Ecle 11, 7). Um novo dia vem surgindo. Os primeiros raios deste sol iluminam o que ainda está por vir. As novidades e surpresas deste novo tempo tomam o lugar do que ainda há pouco, era limitado à espera numa noite fria. Vem nascendo a luz entre nós, os sonhos de ontem começam a sair do rabisco dos papéis, para assim se tornarem obra concreta aos nossos olhos. Vem nascendo Jesus menino, e com Ele todas as promessas de que os sonhos de Deus estão se tornando realidade, porque Ele é quem faz o milagre se dar em nossas pequenas vias.

Hoje é tempo de contemplarmos o nascimento da esperança entre nós através desses pequenos meios. Que haja sempre a certeza de que o milagre de Deus já se iniciou, que é na simplicidade das pequenas coisas que Deus manifesta Sua vontade. Que possamos vislumbrar os próximos sonhos na esperança que o Pai nos reservou, afinal, na dinâmica de Deus a esperança nasce assim como Jesus menino, simples e grandioso em meio a nós.

Matheus Jardelino Dias.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Evangelizando adormecidos




Você que há muito tempo faz seu trabalho de evangelização, já deve ter notado algo bem peculiar na caminhada: se levar as pessoas para Deus já não é tarefa fácil, trazer de volta as pessoas que um dia já se encontraram com Ele, mas hoje se desviam de Sua vontade, parece ser tarefa ainda mais árdua.

Afinal de contas, o que levam as pessoas que já foram tão íntimas do Senhor a se desviarem da presença de Deus? Certamente poderíamos ter muitas respostas, mas tudo leva a crer que o ponto chave desta resposta está no dom da liberdade que cada um recebeu.

“Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, portanto, de crescer em perfeição ou de definhar e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito. “ CIC 1732

Liberdade é uma arma duplamente poderosa. Pode ser fonte de salvação ou de perdição. Sendo a liberdade tão belo dom de Deus, então por que escolhemos caminhos longe da vontade do Pai?

O homem naturalmente tem tendência a deixar que a sua liberdade seja totalmente voltada ao desejo de ser feliz através da sua realização pelo prazer imediato e individual, como única e possível forma obter êxito pessoal, evitando tudo o que possa ser desagradável a si mesmo. É nesta cultura hedônica dos dias atuais que se encontra a raiz de tantas pessoas que não conseguem abrir mão de suas escolhas para abraçar a vontade de Deus.

Junto com a capacidade de escolher, recolhemos juntamente as conseqüências dessas escolhas, e a mais clara realidade é que escolhas desacertadas faz nos afastarmos da presença do Pai. Adão e Eva foram os primeiros a experimentar as conseqüências destes desacertos. “O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim.” (Gn 3, 8). É o que acontece conosco quando sabemos que não estamos agradando a Deus, e por isso há tantos cristãos adormecidos hoje, que já estiveram na presença e intimidade com Deus, mas se escondem nas árvores da vida, não tem mais forças para abandonar seus prazeres e escolher os sonhos de Deus.

Como diz a célebre frase da Santa Paula Frassinette: “Vontade de Deus, és meu paraíso”. O paraíso de Adão e Eva era a própria vontade de Deus, fundada na capacidade de escolherem pelo paraíso ou dos prazeres que estavam disponíveis no próprio jardim. Junto à capacidade de escolher, temos a capacidade de amar a Deus, de forma livre e consciente, temos inclusive o incansável desejo de que isto se dê de fato em nossas vidas, levando-nos a uma busca persistente em meio a nossa liberdade e capacidade de pensar e escolher. Isso nos ensina que a nossa escolha não se refere apenas ao ato de crer e não crer, mas que nos envia ao mais intenso diálogo com a nossa realidade, com a própria existência, tomando a cada dia, a cada hora, decisões que nos levam a transformar nossa liberdade naquilo que Deus sonha para cada um de nós.

“Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo.” CIC 1033

Portanto, não há outro caminho que Deus possa oferecer aos seus filhos a não ser o caminho do amor reconciliador, a partir de quanto sentimos o amor de Deus e também naturalmente desejamos corresponder a este amor. E é neste mesmo caminho que Deus convida a todos, outrora íntimos ou não, Adão ou Eva dos dias de hoje, a sermos filhos desta misericórdia de Deus. Ele deseja incansavelmente se reconciliar com todos, e nossa missão não poderia ser outra, a senão resgatar do meio das árvores da sociedade seus filhos adormecidos no antigo jardim e apresentá-los a este novo paraíso que é a vontade de Deus para suas vidas.

Mãos à obra neste resgate,

Paz.

Matheus


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Noves fora, zero.




Talvez você não recorde muito bem, mas certamente durante seu tempo escolar, era comum aprendermos a fazer a prova dos nove após o resultado de uma soma ou uma multiplicação. Era a forma que tínhamos de ter a certeza que todo o cálculo matemático estava correto. Lembro de minha alegria quando me ensinaram esta dica, visto que eu não era muito adepto à matemática, vivia refazendo meus cálculos porque eu nunca tinha segurança se tinha acertado todas as questões.


Recordar este pequeno capítulo da infância nos convida hoje a tirar a prova dos nove em muitas situações de nossas vidas. “Vigie a si mesmo e ao ensinamento e seja perseverante. Desse modo você salvará a si mesmo e aos seus que te ouvem” (1 Tm 4,16). Sei que não é fácil, mas é preciso reconhecer que muitas vezes agimos tendo quase a convicção de que já estamos plenamente certos em tudo o que fazemos, antes mesmo da permissão ou conveniência de nossa intervenção. Esta prepotência pouco inteligente varre em nós a percepção de que agindo sem vigilância, podemos cair no erro diário de recostar a cabeça no travesseiro com o nosso ser repleto de boas intenções, mas tendo evangelizado muito pouco de fato.


Fazendo este exercício de tirar a prova dos nove no concreto da vida, revemos que às vezes “a conta” é grande por demais e por isso tendemos a nos perder nela. Podemos ver, por exemplo, como palavras certas nas horas erradas não santificam nem quem as ouve (se realmente ouve) e nem a nós mesmos. Podemos observar que muitas vezes diante de uma situação de pecado de outra pessoa já chegamos carregados de exortações e conselhos, onde na verdade podem estar aí disfarçadas as máscaras de nossos preconceitos e recriminações.


É preciso definitivamente que ajamos como Jesus agiu, vigilante em todos os momentos. Os sumos sacerdotes que o perseguiam viviam tramando perguntas e situações para colocá-lo em contradição junto ao povo, mas nEle sempre havia a atenção constante de quem não quer tropeçar em seu ensinamento, e sabia como ninguém medir bem suas palavras e ações. Esta é a arte de Jesus de a todo momento tirar a prova dos nove! Você também está convidado a conhecer este método! Podemos juntos dEle vigiar bem tudo o que dizemos e fazemos, e mesmo ainda que esta seja uma fórmula falível por nossa natureza pecadora, teremos a certeza de que fizemos tudo o que pudemos para acertar e por fim poderemos dizer: “noves fora, zero”.

Matheus Jardelino

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

As quatro novas estações


Certamente você viveu muitas situações no decorrer destes doze meses. No particular de cada fato, foram momentos onde se confrontaram vitórias e derrotas; conquistas e perdas, um pacote de acontecimentos que junto deles misturaram-se alegrias que precisavam ser degustadas e desconfortáveis dúvidas que precisavam ser digeridas.

Nem tudo sucedeu como você queria (e se fosse que desastre seria), mas tantos outros fatos não poderiam ser tão bem preparados, tão cuidadosamente concebidos e permitidos pelo Pai. Parece mesmo que em cada detalhe as aparentes coincidências por mais descoordenadas que fossem ainda tinham uma seqüência lógica incrivelmente didática a nós. Nestas lições sucederam-se situações que inevitavelmente deixam marcas profundas na história de quem intensamente as viveu, de quem perdeu e de quem continua aprendendo a ganhar.

A fim de compensar tais perdas, em um outro ano que toma partida, não é incomum ansiarmos por uma nova chance. Talvez seja tempo de enfim termos mais humildade ao reconhecer o quanto precisamos aperfeiçoar-nos sem a pretensão de sermos perfeitos, abandonar o velho jargão que insistimos dizer: “Só me arrependo do que não fiz!”, analisar que esta postura diante da vida não soa cristão o suficiente a ponto de motivar-nos a novas atitudes e de merecer as novas oportunidades.

A vida nos propõe sempre muitas mudanças, ela sabe que afinal a estática nos é enfadonha. Essas mutações são sempre bem-vindas desde que se honre a origem da palavra, mudar com ação, assumindo que agora só o presente nos interessa. É neste confronto passado/presente que temos a real possibilidade de colocar em prática tudo aquilo que não pudemos concretizar em outrora. As situações quase nunca são as mesmas, mas a lição aprendida nos remete a focar o olhar diante da possibilidade do êxito.

Jesus apresenta-se a Tomé. Ao pedir para tocar suas chagas havia uma conotação que vai muito além da incredulidade do discípulo. Quantas vezes nós mesmos, semelhantes ao apóstolo, ainda que caminhando com Cristo, servindo-o, doando-nos, compartilhando preces e presenciando seus milagres – que não foram poucos – nos faltou a ousadia de tocá-lo sem a presença física, nos momentos em que tanto precisamos. O cristão tem mesmo a memória curta e o coração ainda mais esquecido. É preciso deixar neste ano que se finda a cegueira que nos abstém de enxergar além das aparências, entender que tudo se renova a cada tempo e que tantas vezes as ausências podem significar que algo ressuscita. Desta vez seja um apóstolo mais fiel, creia sem tocar, olhe para o novo e respire o ar destas quatro estações por vir, elas te esperam certamente repletas de novas oportunidades.

Paz, saúde e fé no bolso.
Matheus Jardelino Dias

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A Tua vontade é o meu lugar



É chegada a hora. Há momentos em nossas vidas que o tempo não pode esperar para enxergarmos o melhor caminho. São dias, minutos ou segundos que podem determinar o que talvez viveremos por toda a vida.
Não é raro que, diante desses impasses, as incertezas venham nos inquietar a alma, perturbar o espírito e deixar em nós o discreto incômodo que o “talvez” sempre vem trazer. Em meio a tantos questionamentos, as possibilidades se deparam com as dificuldades dos caminhos que insistem em abster de nós as atitudes tão necessárias nesses momentos de dúvidas.
Nosso Jesus teve também suas indecisões. Sofreu horas de agonia e questionamentos antes de decidir pela cruz, confrontaram-se na fragilidade do momento, a Sua vontade com a do Pai. Mas como saber se nossa vontade é também a vontade de Deus?
Para começo de conversa é preciso lembrar de duas coisas. A primeira é que Deus tem um plano em nossas vidas, por mais que tudo pareça tão estático às vezes no nosso caminhar. A segunda é que quando pedimos, Ele nos manda Seus sinais, pequenas indicações que ultrapassam os limites das coincidências, apesar de bem discretos sinais, são fortes confirmações do melhor caminho a seguir.
Que a vontade do Pai seja então o lugar que precisamos estar. Que possamos aos poucos enxergar os horizontes dos planos de Deus em nossas vidas e que haja muito mais luz diante dos olhos daqueles querem ver os Seus discretos sinais.



Matheus Jardelino Dias