quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Nasce a Esperança



Quantas vezes em nossas vidas já passamos por momentos de espera? Quantas vezes tivemos vontade de apressar as horas para recebermos a resposta que tanto esperávamos? E para fazer aquela tão sonhada viagem? Ou para cantar a vitória de ter conseguido aquilo que por tanto tempo desejamos? Você deve lembrar também da sensação que teve ao chegar o momento tão aguardado, do sabor da vitória por ter conseguido chegado enfim a hora de tudo acontecer. Hoje você sabe o quanto valeu a pena ter sofrido essas demoras, caso contrário você não continuaria esperando outros sonhos em sua vida que ainda precisam ser realizados.

Assim como você, durante muito tempo o povo judeu também sofreu as demoras do tempo. Por séculos aguardaram ansiosamente a chegada do seu salvador, aquele que os profetas previram ser um grandioso rei e que viria trazer a libertação de Israel. Havia um clima de expectativa por surgir um grande homem, coroado de majestade e repleto de riquezas. Para muitos, o Messias apareceria com todas as indumentárias próprias de quem deve mostrar todo o seu poder, porém naquela época, foram poucos os que perceberam a dinâmica com que Deus faz os milagres surgirem entre nós, o milagre surgido na simplicidade dos meios.

Faz parte da dinâmica de Deus que suas promessas comecem a se concretizar através de vias pequenas e simples. O próprio Jesus nasceu numa singela estrebaria da pequena cidade de Belém, foi através de um simples local em meio aos animais, por meio da humildade e pequenez daquela pobre serva e na obediência de seu esposo, que nasceu aquele que veio para reinar sobre todos os homens. Esta simplicidade e pobreza em nada contradisseram as profecias, mas revelava a maneira como Deus permite brotar a verdadeira esperança entre os homens, esperança que surge no meio da escassez e aridez dos desertos, na necessidade de uma gente que precisava ver como Deus se manifesta entre os pequenos.

Nós não somos muito diferentes dos judeus daquele tempo. Há no íntimo do coração humano o desejo de ver os nossos sonhos serem realizados, mesmo com tão pouco a oferecer a Deus para que os milagres aconteçam em nós. Nosso Jesus era especialista em usar das pequenas coisas para realizar seus milagres, usou de cinco pães e dois peixes, de seis talhas de água, usou a terra e a saliva, usou de homens rudes, medrosos, de pouco estudo e ainda assim os escolheu para darem continuidade à obra de salvação da humanidade. Mesmo diante de tamanha escassez, a esperança tomou o lugar de nossa pobreza, reaviva todas as expectativas que aos olhos humanos parecem inexistirem, e é neste convívio com a misericórdia de Deus, que nos reconhecemos verdadeiramente filhos daquele que é a esperança encarnada no homem.

“Doce é a luz e é um deleite para os olhos ver o sol.” (Ecle 11, 7). Um novo dia vem surgindo. Os primeiros raios deste sol iluminam o que ainda está por vir. As novidades e surpresas deste novo tempo tomam o lugar do que ainda há pouco, era limitado à espera numa noite fria. Vem nascendo a luz entre nós, os sonhos de ontem começam a sair do rabisco dos papéis, para assim se tornarem obra concreta aos nossos olhos. Vem nascendo Jesus menino, e com Ele todas as promessas de que os sonhos de Deus estão se tornando realidade, porque Ele é quem faz o milagre se dar em nossas pequenas vias.

Hoje é tempo de contemplarmos o nascimento da esperança entre nós através desses pequenos meios. Que haja sempre a certeza de que o milagre de Deus já se iniciou, que é na simplicidade das pequenas coisas que Deus manifesta Sua vontade. Que possamos vislumbrar os próximos sonhos na esperança que o Pai nos reservou, afinal, na dinâmica de Deus a esperança nasce assim como Jesus menino, simples e grandioso em meio a nós.

Matheus Jardelino Dias.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Evangelizando adormecidos




Você que há muito tempo faz seu trabalho de evangelização, já deve ter notado algo bem peculiar na caminhada: se levar as pessoas para Deus já não é tarefa fácil, trazer de volta as pessoas que um dia já se encontraram com Ele, mas hoje se desviam de Sua vontade, parece ser tarefa ainda mais árdua.

Afinal de contas, o que levam as pessoas que já foram tão íntimas do Senhor a se desviarem da presença de Deus? Certamente poderíamos ter muitas respostas, mas tudo leva a crer que o ponto chave desta resposta está no dom da liberdade que cada um recebeu.

“Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, portanto, de crescer em perfeição ou de definhar e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito. “ CIC 1732

Liberdade é uma arma duplamente poderosa. Pode ser fonte de salvação ou de perdição. Sendo a liberdade tão belo dom de Deus, então por que escolhemos caminhos longe da vontade do Pai?

O homem naturalmente tem tendência a deixar que a sua liberdade seja totalmente voltada ao desejo de ser feliz através da sua realização pelo prazer imediato e individual, como única e possível forma obter êxito pessoal, evitando tudo o que possa ser desagradável a si mesmo. É nesta cultura hedônica dos dias atuais que se encontra a raiz de tantas pessoas que não conseguem abrir mão de suas escolhas para abraçar a vontade de Deus.

Junto com a capacidade de escolher, recolhemos juntamente as conseqüências dessas escolhas, e a mais clara realidade é que escolhas desacertadas faz nos afastarmos da presença do Pai. Adão e Eva foram os primeiros a experimentar as conseqüências destes desacertos. “O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim.” (Gn 3, 8). É o que acontece conosco quando sabemos que não estamos agradando a Deus, e por isso há tantos cristãos adormecidos hoje, que já estiveram na presença e intimidade com Deus, mas se escondem nas árvores da vida, não tem mais forças para abandonar seus prazeres e escolher os sonhos de Deus.

Como diz a célebre frase da Santa Paula Frassinette: “Vontade de Deus, és meu paraíso”. O paraíso de Adão e Eva era a própria vontade de Deus, fundada na capacidade de escolherem pelo paraíso ou dos prazeres que estavam disponíveis no próprio jardim. Junto à capacidade de escolher, temos a capacidade de amar a Deus, de forma livre e consciente, temos inclusive o incansável desejo de que isto se dê de fato em nossas vidas, levando-nos a uma busca persistente em meio a nossa liberdade e capacidade de pensar e escolher. Isso nos ensina que a nossa escolha não se refere apenas ao ato de crer e não crer, mas que nos envia ao mais intenso diálogo com a nossa realidade, com a própria existência, tomando a cada dia, a cada hora, decisões que nos levam a transformar nossa liberdade naquilo que Deus sonha para cada um de nós.

“Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo.” CIC 1033

Portanto, não há outro caminho que Deus possa oferecer aos seus filhos a não ser o caminho do amor reconciliador, a partir de quanto sentimos o amor de Deus e também naturalmente desejamos corresponder a este amor. E é neste mesmo caminho que Deus convida a todos, outrora íntimos ou não, Adão ou Eva dos dias de hoje, a sermos filhos desta misericórdia de Deus. Ele deseja incansavelmente se reconciliar com todos, e nossa missão não poderia ser outra, a senão resgatar do meio das árvores da sociedade seus filhos adormecidos no antigo jardim e apresentá-los a este novo paraíso que é a vontade de Deus para suas vidas.

Mãos à obra neste resgate,

Paz.

Matheus


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Noves fora, zero.




Talvez você não recorde muito bem, mas certamente durante seu tempo escolar, era comum aprendermos a fazer a prova dos nove após o resultado de uma soma ou uma multiplicação. Era a forma que tínhamos de ter a certeza que todo o cálculo matemático estava correto. Lembro de minha alegria quando me ensinaram esta dica, visto que eu não era muito adepto à matemática, vivia refazendo meus cálculos porque eu nunca tinha segurança se tinha acertado todas as questões.


Recordar este pequeno capítulo da infância nos convida hoje a tirar a prova dos nove em muitas situações de nossas vidas. “Vigie a si mesmo e ao ensinamento e seja perseverante. Desse modo você salvará a si mesmo e aos seus que te ouvem” (1 Tm 4,16). Sei que não é fácil, mas é preciso reconhecer que muitas vezes agimos tendo quase a convicção de que já estamos plenamente certos em tudo o que fazemos, antes mesmo da permissão ou conveniência de nossa intervenção. Esta prepotência pouco inteligente varre em nós a percepção de que agindo sem vigilância, podemos cair no erro diário de recostar a cabeça no travesseiro com o nosso ser repleto de boas intenções, mas tendo evangelizado muito pouco de fato.


Fazendo este exercício de tirar a prova dos nove no concreto da vida, revemos que às vezes “a conta” é grande por demais e por isso tendemos a nos perder nela. Podemos ver, por exemplo, como palavras certas nas horas erradas não santificam nem quem as ouve (se realmente ouve) e nem a nós mesmos. Podemos observar que muitas vezes diante de uma situação de pecado de outra pessoa já chegamos carregados de exortações e conselhos, onde na verdade podem estar aí disfarçadas as máscaras de nossos preconceitos e recriminações.


É preciso definitivamente que ajamos como Jesus agiu, vigilante em todos os momentos. Os sumos sacerdotes que o perseguiam viviam tramando perguntas e situações para colocá-lo em contradição junto ao povo, mas nEle sempre havia a atenção constante de quem não quer tropeçar em seu ensinamento, e sabia como ninguém medir bem suas palavras e ações. Esta é a arte de Jesus de a todo momento tirar a prova dos nove! Você também está convidado a conhecer este método! Podemos juntos dEle vigiar bem tudo o que dizemos e fazemos, e mesmo ainda que esta seja uma fórmula falível por nossa natureza pecadora, teremos a certeza de que fizemos tudo o que pudemos para acertar e por fim poderemos dizer: “noves fora, zero”.

Matheus Jardelino